A literatura de cordel é uma de minhas grandes paixões, pois aprendi a ler "gaguejando" para meus avós paternos pequenos folhetos de cordel que eles traziam de suas viagens anuais à Juazeiro, Ceará. Nos versos abaixo, fundamentada em informações trazidas pelos alunos desta comunidade, tento contar a história da origem do lugar.
Bambelô coco de roda
É uma antiga tradição
De uma dança circular
Dançada com animação
Acompanhada por palmas
Batuque e também canção
Os tambores acompanham
Com grande empolgação
Os passos dos dançarinos
Sua movimentação
É bonito de se ver
Toda essa evolução
Tem ganzá surdo e pandeiro
Pra ajudar a animar
Os passos dos dançarinos
Que dançam sem se cansar
É mesmo muito animada
Essa dança popular
O atabaque maior
É chamado pau-furado
Feito através de um processo
Por nosso índio ensinado
Pois se queima o miolo
Para o som ser escutado
Sua origem é remota
Não se tem exatidão
Dizem que é uma herança
Do tempo da escravidão
Compartilhada por negros
E índios da região
Da região nordestina
É que estamos a falar
Pois na colonização
Negro e índio estavam lá
Construindo este país
De cultura popular
Afirmam que em Palmares
Teve origem a tradição
De dançar coco de roda
Em clima de união
Africanos e indígenas
Viveram lá como irmãos
Nessa dança os tambores
Tem papel essencial
De levar os dançarinos
A uma alegria geral
Que contagia a todos
É mesmo fenomenal
Criar e improvisar
É fator primordial
Pra dançar o pau furado
De uma forma original
Cada com sua dança
O contentamento é total
Toda gestualidade
Dançada pelos brincantes
Lembra toda habilidade
De um frevo contagiante
Maracatu, capoeira
É mesmo muito empolgante
Agora vamos falar
De uma comunidade
Onde dança-se esse coco
Com grande propriedade
Distrito de Capoeira
Macaíba é a cidade
Como surgiu Capoeira?
É o que vamos contar
Mas não há muita certeza
Sobre a origem do lugar
Existem algumas versões
E delas vamos falar
Capoeira no passado
Era uma mata fechada
Lugar onde os animais
Faziam sua morada
Fugindo de caçador
Que preparava emboscada
Caquica era uma velhinha
Que em Capoeira nasceu
Contava que sua mãe
Na escravidão viveu
Fugindo do cativeiro
Ali se estabeleceu
Todos sabem que o Nordeste
Foi palco de escravidão
Onde muitos africanos
Trabalharam em mutirão
No açoite e na chibata
Enriquecendo o patrão
Muitos não agüentavam
Toda essa opressão
Fugiam desesperados
Procurando outro torrão
Pra viver em liberdade
Longe daquela opressão
Outros contam que a origem
É ligada a seu João
Um senhor de pele negra
Que habitou aquele chão
Em tempo muito remoto
Deu o nome a região
Contam que o seu João
Costumava se sentar
Toda boquinha da noite
Pra lindas histórias contar
Dos tempos da carochinha
Fazendo o povo sonhar
Outros defendem e afirmam
Que o nome do lugar
Vem do tempo dos escravos
Que lá foram se abrigar
Fugindo do cativeiro
Que estavam a amargar
Qual a verdadeira história?
Não podemos responder
Porque na oralidade
É que está esse saber
Na mente daquele povo
Conseguiu sobreviver
O povo de Capoeira
Guarda muita tradição
Tem religiosidade
Tem santos de devoção
Tem a Santa Aparecida
Que lhe dá a proteção
A Santa Aparecida
É padroeira do lugar
Mas também Santa Luzia
É uma santa popular
Até fazem uma festa
Pra lhe homenagear
E falando em tradição
Não podemos esquecer
A dança do pau furado
Que está a renascer
Tem um grupo juvenil
Para a tradição manter
Esse grupo se organiza
Na própria Comunidade
Tentando assim demonstrar
A sua capacidade
Pra manter a tradição
Junto ao povo da cidade
Mas é preciso manter
E expandir a tradição
Por isso que o CERU
Pensou com empolgação
Em forma também um grupo
Pra promover essa ação
Esse grupo foi formado
Por alunos de Capoeira
Que ensinam a seus colegas
Essa dança pioneira
Herdada dos ex-escravos
Dessa terra brasileira
O grupo é animado
Trabalha com devoção
Envolvendo toda equipe
Com trabalho e união
A dança é animada
Por que tem muita emoção
A vida em Capoeiras
É uma simplicidade
De uma gente acolhedora
De muita capacidade
Que vive a trabalhar
Por sua comunidade
Vamos agora falar
De uma questão de valor
Da terra onde esse povo
Viveu, sofreu, trabalhou
Sonhou com a felicidade
No chão que os filhos criou
Esse povo declarou
Com muita dignidade
A sua origem negra
De grande autenticidade
A titulação da terra
Pediu pra as autoridades
Foi
instalado um processo
Para averiguação
Como o
pedido é justo
Será feita
a concessão
Que
assegura essas terras
Para esses
cidadãos
Essa pequena história
Na sua simplicidade
Foi contada pelo povo
Daquela comunidade
Que luta para manter
A sua dignidade.
Um comentário:
Muito bom!!!
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