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quarta-feira, 27 de junho de 2012

A comunidade de Capoeira em versos de cordel

A literatura de cordel é uma de minhas grandes paixões, pois aprendi a ler "gaguejando" para meus avós paternos pequenos folhetos de cordel que eles traziam de suas viagens anuais à Juazeiro, Ceará. Nos versos abaixo, fundamentada em informações trazidas pelos alunos desta comunidade, tento contar a história da origem do lugar.




A COMUNIDADE DE CAPOEIRAS, SUAS HISTÓRIAS E TRADIÇÕES CULTURAIS


Bambelô coco de roda
É uma antiga tradição
De uma dança circular
Dançada com animação
Acompanhada por palmas
Batuque e também canção

Os tambores acompanham
Com grande empolgação
Os passos dos dançarinos
Sua movimentação
É bonito de se ver
Toda essa evolução

Tem ganzá surdo e pandeiro
Pra ajudar a animar
Os passos dos dançarinos
Que dançam sem se cansar
É mesmo muito animada
Essa dança popular

O atabaque maior
É chamado pau-furado
Feito através de um processo
Por nosso índio ensinado
Pois se queima o miolo
Para o som ser escutado

Sua origem é remota
Não se tem exatidão
Dizem que é uma herança
Do tempo da escravidão
Compartilhada por negros
E índios da região

Da região nordestina
É que estamos a falar
Pois na colonização
Negro e índio estavam lá
Construindo este país
De cultura popular

Afirmam que em Palmares
Teve origem a tradição
De dançar coco de roda
Em clima de união
Africanos e indígenas
Viveram lá como irmãos

Nessa dança os tambores
Tem papel essencial
De levar os dançarinos
A uma alegria geral
Que contagia a todos
É mesmo fenomenal

Criar e improvisar
É fator primordial
Pra dançar o pau furado
De uma forma original
Cada com sua dança
O contentamento é total

Toda gestualidade
Dançada pelos brincantes
Lembra toda habilidade
De um frevo contagiante
Maracatu, capoeira
É mesmo muito empolgante

Agora vamos falar
De uma comunidade
Onde dança-se esse coco
Com grande propriedade
Distrito de Capoeira
Macaíba é a cidade

Como surgiu Capoeira?
É o que vamos contar
Mas não há muita certeza
Sobre a origem do lugar
Existem algumas versões
E delas vamos falar

Capoeira no passado
Era uma mata fechada
Lugar onde os animais
Faziam  sua morada
Fugindo de caçador
Que preparava emboscada



Caquica era uma velhinha
Que em Capoeira nasceu
Contava que sua mãe
Na escravidão viveu
Fugindo do cativeiro
Ali se estabeleceu

Todos sabem que o Nordeste
Foi palco de escravidão
Onde muitos africanos
Trabalharam em mutirão
No açoite e na chibata
Enriquecendo o patrão

Muitos não agüentavam
Toda essa opressão
Fugiam desesperados
Procurando outro torrão
Pra viver em liberdade
Longe daquela opressão

Outros contam que a origem
É ligada a seu João
Um senhor de pele negra
Que habitou aquele chão
Em tempo muito remoto
Deu o nome a região

Contam que o seu João
Costumava se sentar
Toda boquinha da noite
Pra lindas histórias contar
Dos tempos da carochinha
Fazendo o povo sonhar

Outros defendem e afirmam
Que o nome do lugar
Vem do tempo dos escravos
Que lá foram se abrigar
Fugindo do cativeiro
Que estavam a amargar

Qual a verdadeira história?
Não podemos responder
Porque na oralidade
É que está esse saber
Na mente daquele povo
Conseguiu sobreviver

O povo de Capoeira
Guarda muita tradição
Tem religiosidade
Tem santos de devoção
Tem a Santa Aparecida
Que lhe dá a proteção

A Santa Aparecida
É padroeira do lugar
Mas também Santa Luzia
É uma santa popular
Até fazem uma festa
Pra lhe homenagear

E falando em tradição
Não podemos esquecer
A dança do pau furado
Que está a renascer
Tem um grupo juvenil
Para a tradição manter

Esse grupo se organiza
Na própria Comunidade
Tentando assim demonstrar
A sua capacidade
Pra  manter a tradição
Junto ao povo da cidade

Mas é preciso manter
E expandir a tradição
Por isso que o CERU
Pensou com empolgação
Em forma também um grupo
Pra promover essa ação

Esse grupo foi formado
Por alunos de Capoeira
Que ensinam a seus colegas
Essa dança pioneira
Herdada dos ex-escravos
Dessa terra brasileira

O grupo é animado
Trabalha com devoção
Envolvendo toda equipe
Com trabalho e união
A dança é animada
Por que tem  muita emoção

A vida em Capoeiras
É uma simplicidade
De  uma gente acolhedora
De muita capacidade
Que vive a trabalhar
Por sua comunidade

Vamos agora falar
De uma questão de valor
Da terra onde esse povo
Viveu, sofreu, trabalhou
Sonhou com a felicidade
No chão que os filhos criou

Esse povo declarou
Com muita dignidade
A sua origem negra
De grande autenticidade
A titulação da terra
Pediu pra as autoridades

Foi instalado um processo
Para averiguação
Como o pedido é justo
Será feita a concessão
Que assegura essas terras
Para esses cidadãos

Essa pequena história
Na sua simplicidade
Foi contada pelo povo
Daquela comunidade
Que luta para manter
A sua dignidade.