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segunda-feira, 25 de junho de 2012

A Origem do Carnaval



 

De vez em quando se ouve dizer: “o carnaval é a maior invenção nacional”. Mas essa é uma afirmação equivocada, pois apesar de ser uma das festas mais importantes do país sua origem não é brasileira.
Mary Del Priore, professora da USP-Universidade de São Paulo, afirma que a origem do Carnaval se perde no tempo, “tanto que as religiões históricas nascidas às margens do Mediterrâneo tiveram que inventar um lugar para tais festividades no seu calendário. O Cristianismo associou o Carnaval à Quaresma, que antecede a Páscoa; o Judaísmo, à festa de Purim, em homenagem à rainha Éster. Já o Islã sitiou as mascaradas no início móvel de seu ano lunar. As três festas seguem firmemente inscritas no tempo religioso, mas aparecem, em diferentes graus, como fragmentos ou parênteses pagãos”.
Embora existam antecedentes do Carnaval na distante Babilônia e Roma Antiga, é no calendário cristão que estão suas matrizes fundamentais. O Cristianismo integrou o tempo dos fiéis em torno do drama da Paixão de Cristo. De acordo com Mary Del Priore, por volta do ano 1000, a organização definitiva do tempo cristão assinalou a ruptura alimentar entre os períodos de abundância e de jejum. Para marcar o período em que era preciso deixar os prazeres da mesa e da carne, os clérigos forjaram a ideia de carnis privium ou carnis tolendas (abstenção de carne).
Na Idade Média, entre Natal e Carnaval aumentavam as quermesses. Durante o período da matança dos porcos para o preparo de embutidos (consumidos na semana gorda), liberava-se aos jovens tingir o rosto com cinzas e encapuzar-se. O uso de roupas de mulheres ou as próprias roupas ao avesso e o vestir-se com sacos também eram liberados. Eles entravam nas casas: comiam, bebiam, beijavam as moças que procuravam reconhecê-los.
“Na Quarta-feira de Cinzas, um manequim figurando o Carnaval fazia sua entrada no vilarejo seguido de um grande cortejo de mascarados. Ao fim do dia, era queimado num muro próximo à Igreja, juntamente com as máscaras, e acompanhado de lamentos que anunciavam a chegada da Quaresma”, enfatiza Mary Del Priore.
No Brasil, a festa chegou com o nome de “entrudo”, em 1723, trazida pelos imigrantes portugueses das ilhas de Açores e Madeira. O entrudo incluía o hábito de jogar água nos passantes ou brincar de pintar o rosto. Segundo Maria Clementina Pereira Cunha, professora da Unicamp, eram praticadas as brincadeiras “de mascarados, os Zé-pereiras (conjuntos com bumbos e instrumentos variados que saíam às ruas anarquicamente) barulhentos que congregavam espontaneamente foliões das ruas e outros folguedos que praticavam com entusiasmo. Tinham nisso a colaboração das autoridades que, anualmente, expediam circulares proibindo tais brincadeiras e gastavam muita energia prendendo e multando foliões teimosos”.
O entrudo era praticado pelos escravizados e pela população livre, é o que conta José Ramos Tinhorão: “no Rio, no século XIX, as pessoas de bem não saíam nas ruas, pelo contrário, ficavam fazendo a gracinha de jogar água pela janela em quem passava. (...) Dentro de casa elas brincavam com limões de cera cheios de líquido perfumado. Quando jogava no outro, a película de cera rompia e a pessoa ficava cheirosa. Era uma coisa delicada e bem-comportada como requer a etiqueta. Já na rua, tinha gente que jogava água, farinha e até ovos, principalmente se a pessoa passava muito bem-vestida”.
Com o processo de industrialização, no final do século XIX, os imigrantes (recém-chegados) não desejavam participar do entrudo e nem tampouco se divertir com os escravizados. Brincar com o pessoal da elite também era inviável, pois o pessoal bacana se divertia em local fechado. Ocorreu uma mobilização para organizar o espaço público.
Tinhorão conta que até a década de 1910 havia uma desorganização, mas a baixa classe média começava então a organizar uma festa carnavalesca com o nome de rancho. Quando o rancho saía às ruas havia até polícia afastando o povo para a calçada para poder passar o rancho, organizado e bem-comportado. Criavam enredos e saíam moças fantasiadas de  borboletas do Egito, com asas de arame e papel. Os conjuntos que tocavam nos ranchos eram conhecidos como orquestra. A partir dos ranchos foi se apagando o verdadeiro carnaval no sentido da festa que o povo oferecia a si mesmo. A imitação da estrutura dos ranchos deu origem à Escola de Samba. Mas o entrudo ainda resiste em algumas regiões do Brasil. Em alguns bairros de São Paulo, por exemplo, crianças continuam saindo às ruas mascaradas e fantasiadas, batendo em latas e tambores e jogando água e farinha nas outras numa grande brincadeira; no Recife a brincadeira também resiste.
Carnaval na atualidade:
Em Olinda e Recife (Pernambuco) o frevo é uma das características principais. A dança do Galo da madrugada, que ocorre no sábado que antecede o Carnaval, encanta quase um milhão de pessoas todos os anos. No bloco “O Bacalhau do Batata”, em plena quarta-feira de cinzas, a população nas ruas de Olinda segue os bonecos gigantes e a orquestra de frevo. Detalhe: O garçom Izaias Pereira da Silva, o Batata, foi quem criou O Bacalhau do Batata.
Em 1950, em Salvador, Bahia, Dodô e Osmar inventaram o trio elétrico. Hoje na Bahia existem blocos organizados onde a população paga para seguir os caminhões (trios elétricos), que são verdadeiros palcos animados por bandas e cantores famosos que tocam  axé-music e outros ritmos carnavalescos. Alguns grupos afros saem da Cidade Baixa e do Pelourinho tocando tambores até a Praça Castro Alves. Nesta praça é realizada uma grande confraternização.
No Rio de Janeiro, a partir dos  anos 60, os “banqueiros” do bicho passaram a financiar a festa e a mídia eletrônica deu visibilidade à disputa. Hoje as escolas são indústrias e os enredos são patrocinados e articula-se com a venda de CDs. Os foliões recebem fantasias prontas. Publicitários ganham milhões na intermediação de enredos e não falta gente que pague para ser homenageado. O padrão, que nivela por baixo, exige enredos curtos e fáceis de memorizar. É o carnaval para turistas. Na cidade maravilhosa as Escolas de Samba se apresentam no Sambódromo. Além dos enredos, são observados na passarela do samba os carros alegóricos, onde quatro mil ou mais componentes usam fantasias relacionadas com o tema do ano de cada escola. O público paga caro para assistir das arquibancadas  ao raro espetáculo. Os ricos assistem de camarotes e quem pode pagar pela fantasia, desfila em alguma escola.
Texto adaptado
Maria Luzinete Dantas Lima

TEXTO COMPLEMENTAR:
A Lenda do Arlequim



Conta a lenda que vivia em Veneza, no seu lindo e imponente palácio, uma Condessa muito rica que todos os anos, no Carnaval, organizava um grande baile de máscaras, para o qual convidava todos os rapazes e moças da cidade.
A Condessa só fazia uma exigência aos convidados: tinham de se apresentar fantasiados e mascarados. E durante a festa, era sempre premiado aquele que melhor se apresentasse. Então, em todas as casas de Veneza, as mães esforçavam-se por fazer as mais belas máscaras e as mais belas fantasias. Só Arlequim não podia ir ao baile por ser muito pobre e sua mãe não poder lhe fazer nenhum traje.
Os amigos vendo-o triste resolveram dar-lhe o que tinha, os pedacinhos de tecidos que sobrara da confecção dos seus trajes. E, com eles, a mãe de Arlequim conseguiu fazer uma linda fantasia, cortando os pedacinhos de tecidos em losangos iguais e combinando habilidosamente as diferentes cores.
Assim, o pequeno Arlequim pôde entrar no Palácio da Condessa. E mais conta a lenda que foi precisamente Arlequim quem nesse ano ganhou o prémio por ter se apresentado com a fantasia mais bonita e original. E quando a Condessa lhe perguntou como é que ele, tão pobre, tinha arranjado tão lindo traje, ele respondeu:
- A minha fantasia foi feita com a bondade dos meus Amigos e o coração de minha Mãe.
Fonte Pesquisada: A lenda do Arlequim, do livro Novas Flores para Crianças de Fernando Cardoso (EditoraPortugal Mundo)

Um comentário:

Jacicleide Bezerra disse...

Que texto maravilhoso, posso utilizar quando necessitar? Com as devidas referências é claro.
Parabéns pelo blog!