De vez em
quando se ouve dizer: “o carnaval é a maior invenção nacional”. Mas essa é uma
afirmação equivocada, pois apesar de ser uma das festas mais importantes do
país sua origem não é brasileira.
Mary Del Priore, professora da USP-Universidade de
São Paulo, afirma que a origem do Carnaval se perde no tempo, “tanto que as
religiões históricas nascidas às margens do Mediterrâneo tiveram que inventar
um lugar para tais festividades no seu calendário. O Cristianismo associou o
Carnaval à Quaresma, que antecede a Páscoa; o Judaísmo, à festa de Purim, em
homenagem à rainha Éster. Já o Islã sitiou as mascaradas no início móvel de seu
ano lunar. As três festas seguem firmemente inscritas no tempo religioso, mas
aparecem, em diferentes graus, como fragmentos ou parênteses pagãos”.
Embora existam antecedentes do Carnaval na distante
Babilônia e Roma Antiga, é no calendário cristão que estão suas matrizes
fundamentais. O Cristianismo integrou o tempo dos fiéis em torno do drama da
Paixão de Cristo. De acordo com Mary Del Priore, por volta do ano 1000, a
organização definitiva do tempo cristão assinalou a ruptura alimentar entre os
períodos de abundância e de jejum. Para marcar o período em que era preciso
deixar os prazeres da mesa e da carne, os clérigos forjaram a ideia de carnis
privium ou carnis tolendas (abstenção de carne).
Na Idade Média, entre Natal e Carnaval aumentavam
as quermesses. Durante o período da matança dos porcos para o preparo de
embutidos (consumidos na semana gorda), liberava-se aos jovens tingir o rosto
com cinzas e encapuzar-se. O uso de roupas de mulheres ou as próprias roupas ao
avesso e o vestir-se com sacos também eram liberados. Eles entravam nas casas:
comiam, bebiam, beijavam as moças que procuravam reconhecê-los.
“Na Quarta-feira de Cinzas, um manequim figurando o
Carnaval fazia sua entrada no vilarejo seguido de um grande cortejo de
mascarados. Ao fim do dia, era queimado num muro próximo à Igreja, juntamente
com as máscaras, e acompanhado de lamentos que anunciavam a chegada da
Quaresma”, enfatiza Mary Del Priore.
No Brasil, a festa chegou com o nome de “entrudo”,
em 1723, trazida pelos imigrantes portugueses das ilhas de Açores e Madeira. O
entrudo incluía o hábito de jogar água nos passantes ou brincar de pintar o
rosto. Segundo Maria Clementina Pereira Cunha, professora da Unicamp, eram
praticadas as brincadeiras “de mascarados, os Zé-pereiras (conjuntos com bumbos
e instrumentos variados que saíam às ruas anarquicamente) barulhentos que
congregavam espontaneamente foliões das ruas e outros folguedos que praticavam
com entusiasmo. Tinham nisso a colaboração das autoridades que, anualmente,
expediam circulares proibindo tais brincadeiras e gastavam muita energia
prendendo e multando foliões teimosos”.
O entrudo era praticado pelos escravizados e pela
população livre, é o que conta José Ramos Tinhorão: “no Rio, no século XIX, as
pessoas de bem não saíam nas ruas, pelo contrário, ficavam fazendo a gracinha
de jogar água pela janela em quem passava. (...) Dentro de casa elas brincavam
com limões de cera cheios de líquido perfumado. Quando jogava no outro, a
película de cera rompia e a pessoa ficava cheirosa. Era uma coisa delicada e
bem-comportada como requer a etiqueta. Já na rua, tinha gente que jogava água,
farinha e até ovos, principalmente se a pessoa passava muito bem-vestida”.
Com o processo de industrialização, no final do
século XIX, os imigrantes (recém-chegados) não desejavam participar do entrudo
e nem tampouco se divertir com os escravizados. Brincar com o pessoal da elite
também era inviável, pois o pessoal bacana se divertia em local fechado.
Ocorreu uma mobilização para organizar o espaço público.
Tinhorão conta que até a década de 1910 havia uma
desorganização, mas a baixa classe média começava então a organizar uma festa
carnavalesca com o nome de rancho. Quando o rancho saía às ruas havia até
polícia afastando o povo para a calçada para poder passar o rancho, organizado
e bem-comportado. Criavam enredos e saíam moças fantasiadas de borboletas do Egito, com asas de arame e
papel. Os conjuntos que tocavam nos ranchos eram conhecidos como orquestra. A partir
dos ranchos foi se apagando o verdadeiro carnaval no sentido da festa que o
povo oferecia a si mesmo. A imitação da estrutura dos ranchos deu origem à
Escola de Samba. Mas o entrudo ainda resiste em algumas regiões do Brasil. Em
alguns bairros de São Paulo, por exemplo, crianças continuam saindo às ruas
mascaradas e fantasiadas, batendo em latas e tambores e jogando água e farinha
nas outras numa grande brincadeira; no Recife a brincadeira também resiste.
Carnaval na atualidade:
Em Olinda e Recife (Pernambuco) o frevo é uma das
características principais. A dança do Galo da madrugada, que ocorre no sábado
que antecede o Carnaval, encanta quase um milhão de pessoas todos os anos. No
bloco “O Bacalhau do Batata”, em plena quarta-feira de cinzas, a população nas
ruas de Olinda segue os bonecos gigantes e a orquestra de frevo. Detalhe: O
garçom Izaias Pereira da Silva, o Batata, foi quem criou O Bacalhau do Batata.
Em 1950, em Salvador, Bahia, Dodô e Osmar
inventaram o trio elétrico. Hoje na Bahia existem blocos organizados onde a
população paga para seguir os caminhões (trios elétricos), que são verdadeiros
palcos animados por bandas e cantores famosos que tocam axé-music e outros ritmos carnavalescos.
Alguns grupos afros saem da Cidade Baixa e do Pelourinho tocando tambores até a
Praça Castro Alves. Nesta praça é realizada uma grande confraternização.
No Rio de
Janeiro, a partir dos anos 60, os
“banqueiros” do bicho passaram a financiar a festa e a mídia eletrônica deu
visibilidade à disputa. Hoje as escolas são indústrias e os enredos são patrocinados
e articula-se com a venda de CDs. Os foliões recebem fantasias prontas.
Publicitários ganham milhões na intermediação de enredos e não falta gente que
pague para ser homenageado. O padrão, que nivela por baixo, exige enredos
curtos e fáceis de memorizar. É o carnaval para turistas. Na cidade maravilhosa
as Escolas de Samba se apresentam no Sambódromo. Além dos enredos, são
observados na passarela do samba os carros alegóricos, onde quatro mil ou mais
componentes usam fantasias relacionadas com o tema do ano de cada escola. O
público paga caro para assistir das arquibancadas ao raro espetáculo. Os ricos assistem de
camarotes e quem pode pagar pela fantasia, desfila em alguma escola.
Texto adaptado
Maria Luzinete Dantas Lima
Conta a lenda que
vivia em Veneza, no seu lindo e imponente palácio, uma Condessa muito rica que
todos os anos, no Carnaval, organizava um grande baile de máscaras, para o qual
convidava todos os rapazes e moças da cidade.
A Condessa só
fazia uma exigência aos convidados: tinham de se apresentar fantasiados e mascarados.
E durante a festa, era sempre premiado aquele que melhor se apresentasse.
Então, em todas as casas de Veneza, as mães esforçavam-se por fazer as mais
belas máscaras e as mais belas fantasias. Só Arlequim não podia ir ao baile por
ser muito pobre e sua mãe não poder lhe fazer nenhum traje.
Os amigos vendo-o
triste resolveram dar-lhe o que tinha, os pedacinhos de tecidos que sobrara da
confecção dos seus trajes. E, com eles, a mãe de Arlequim conseguiu fazer uma
linda fantasia, cortando os pedacinhos de tecidos em losangos iguais e
combinando habilidosamente as diferentes cores.
Assim, o pequeno
Arlequim pôde entrar no Palácio da Condessa. E mais conta a lenda que foi
precisamente Arlequim quem nesse ano ganhou o prémio por ter se apresentado com
a fantasia mais bonita e original. E quando a Condessa lhe perguntou como é que
ele, tão pobre, tinha arranjado tão lindo traje, ele respondeu:
- A minha
fantasia foi feita com a bondade dos meus Amigos e o coração de minha Mãe.
Fonte Pesquisada: A lenda do Arlequim,
do livro Novas Flores para Crianças de Fernando Cardoso
(EditoraPortugal Mundo)
Um comentário:
Que texto maravilhoso, posso utilizar quando necessitar? Com as devidas referências é claro.
Parabéns pelo blog!
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